quarta-feira, 21 de abril de 2010

IAB-MG promove debate sobre Panorama da Arquitetura Brasileira em Belo Horizonte

Na Semana de Arquitetura, realizada entre 9 e 11 de março, em Belo Horizonte, arquitetos e estudantes se reuniram para debater sobre habitação, urbanização, meio ambiente e os rumos da arquitetura no país.
Durante o evento, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-MG) lançou a proposta de trabalho para o Ano Estadual do Direito à Paisagem. A mesa redonda “Diálogos da Paisagem” contou com a presença da Presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, Saide Katoini, que reforçou a importância da campanha e também formalizou uma parceria institucional entre as entidades para enfrentamento do desafio de defesa desta ideia.
Para reforçar a proposta o IAB-MG lançará este mês um concurso de ideias para a marca da campanha. O arquiteto Maurício Andrés foi responsável pela lista de recomendações para um meio urbano mais ecológico que será veiculada durante todo o ano pelo IAB-MG.
Ainda na programação da semana, foi empossada a diretoria do IAB-MG (2010-2011).


Personalidades marcantes.
Personalidades da área como os arquitetos Roberto Segre, Sidônio Porto, Maurício Andrés, Gustavo Penna, Demetre Anastassakis, Sylvio Podesta, João Diniz e Carlos Teixeira estiveram presentes no evento e também participaram das discussões.




O professor Roberto Segre observou que a arquitetura brasileira do século XX foi identificada ao longo do século pela persistência dos paradigmas do Movimento Moderno. Mas, segundo ele, há uma geração de arquitetos que deseja questionar e romper com esta continuidade. Isto aconteceu porque a arquitetura foi um dos principais componentes simbólicos do processo da modernização do Brasil.
Ele destacou que a arquitetura moderna brasileira se identifica com a estética da chamada “Escola Carioca”, representada pela figura de Oscar Niemeyer e que isso fez surgir uma antítese, com o desenvolvimento de outra linha formal e conceitual, assumida como a “Escola Paulista”. Esta tradição Paulista, minimalista e técnica, contrapõe a liberdade formal de Niemeyer. Mas para ele, é impossível reduzir a arquitetura moderna brasileira apenas nesta polaridade.
Ele afirmou que desde o início dos anos 90, começaram a surgir as preocupações sobre o caminho futuro da arquitetura brasileira. Grande parte do pensamento renovador surgiu na periferia ou nas publicações dos estudantes nas Faculdades de Arquitetura. “A adoção de componentes tecnológicos avançados, mas adaptados às possibilidades locais, assim como a preocupação pela ecologia e a sustentabilidade, são características dominantes nas obras realizadas nos últimos 20 anos”, conclui.
Já o arquiteto Carlos Teixeira, acredita que a arquitetura brasileira está nostalgicamente presa ao que foi produzido por aqui em meados do século XX. “Toda boa arquitetura brasileira, inclusive a contemporânea, está ligada a uma linha traçada pelos mestres modernistas locais, com pouquíssimas exceções”, afirmou.

Habitação.
A questão da habitação foi levantada pelo arquiteto Sidônio Porto, que sempre se interessou pela industrialização na construção. “Este é um tema que sempre me motivou, desde quando estava fazendo faculdade. Naquela época era a maneira pela qual eu via a possibilidade da minha geração dar uma contribuição ao déficit habitacional, que persiste até hoje”. Hoje ele já procura ligar esta questão à ecologia e sustentabilidade. Para ele, a atividade construtiva é muito poluidora, não só na produção dos insumos, mas também nas reformas e reciclagens. “A industrialização pressupõe a execução do máximo de elementos da construção na indústria, com todo o processo de racionalização, de economia, profissionais bem formados, ao invés de fazer da forma tradicional, com desperdícios e falta de segurança. Se você faz isso na indústria, o canteiro de obras se torna uma área de montagem”, afirmou.
Ele acredita que a preocupação ambiental não seja algo recente, mas que hoje há uma ênfase maior. A preocupação dos arquitetos modernos, de acordo com Porto, está em fazer uma arquitetura correta, adequada ao clima, à geografia e sociedade local. “Em decorrência destes desastres ambientais que vem ocorrendo no mundo, acabam aumentando esta preocupação, com soluções adequadas para virar este jogo. Acho esta conduta válida”, resslatou.
O debate sobre habitação foi aprofundado pelos especialistas Demetre Anastassakis, ex-presidente da Direção Nacional do IAB e autor de vários projetos habitacionais premiados e a Arquiteta Silke Kapp, que coordena os trabalhos do Plano Diretor Metropolitano. Este assunto foi também ponto de pauta da Semana, que abordou ainda reflexões muito interessantes e foi especialmente comandada pelo Arq. José Abílio Belo Pereira e o Coordenador do Plano Roberto Luís Monte Mor.

Ecologicamente correto.
Também preocupado com a questão ecológica, o arquiteto Maurício Andrés Ribeiro chamou a atenção para diferentes questões. Para ele, o arquiteto é uma espécie de ponta de um iceberg de um sistema onde participam os produtores de materiais de construção, a indústria imobiliária, os incorporadores, os bancos que financiam, etc. “Ele é condicionado por este sistema que fornece uma certa margem de liberdade para poder fazer seus projetos. As vezes por falta de consciência do próprio contratante ou por uma deficiência da própria formação do arquiteto, ele acaba produzindo projetos que não são ecologicamente corretos”, disse.
Para Maurício, investir numa boa formação profissional, com as escolas chamando a atenção para a crise climática e para o fato de que o setor da construção é um dos grandes responsáveis pela emissão de gases CO², ajudaria a despertar a consciência dos arquitetos. “Existe também a possibilidade de municípios adotarem códigos de obras na regulamentação urbana, do incentivo econômico para uso de dispositivos de energiasrenováveis e a certificação de qualidade ambiental, auditando projetos e certificações para verificar o seu real impacto sobre o meio ambiente durante todo o seu processo de produção”, finalizou.
O arquiteto Roberto Segre acrescentou que o problema da sustentabilidade vem sendo discutido nos últimos anos. “A luta é por uma arquitetura mais modesta, mais humilde, mas há uma grande demanda no mundo por grandes construções. Esta problemática deveria estar mais presente nas escolas de arquitetura”, relatou. “Além disso, os materiais são caros e não há uma norma que defina como deve ser uma construção sustentável”, concluiu.
Já, Carlos Teixeira reforça que a preocupação ambiental é importante sim, mas que neste momento há também outros problemas que devem ser levados em conta, como os sociais e também de urbanização.

Concurso de logomarcas.

Pra comemorar o lançamento do Ano Estadual da Paisagem Urbana, o IAB-MG lançará, em breve, um concurso de logomarcas.Além disso, uma campanha que prevê vários ciclos de debates para mobilização do cidadão comum.
De acordo com a presidente do IAB-MG, Cláudia Pires, a agenda do ano está sendo construída em torno das propostas da diretoria da instituição.
Uma das atrações previstas será a exposição de Júlio Toledo, autor da serie de postais dos Ipês de Belo Horizonte e uns dos exemplos de Gentileza Urbana mostradas para o público como iniciativa apoiada pelo IAB-MG, que está prevista para junho deste ano.
De acordo com Cláudia Pires, a campanha deste ano está voltada para a discussão da paisagem urbana e sua relação com o meio ambiente. “É necessário refletir sobre a existência de sítios históricos consolidados e suas formas de preservação, sobre os espaços de uso privado e coletivo e seu entorno, sobre as territorialidades metropolitanas na consolidação dos atributos ambientais da cidade e, acima de tudo, divulgar a contribuição dos arquitetos no debate sobre a sustentabilidade urbana em um momento onde toda a sorte de catástrofes assola o meio urbano. Vejam o exemplo do , Haiti, Chile, Rio e Niterói”, explica.
Segundo ela, será discutida a valorização dos atributos paisagísticos ambientais das cidades, por meio do entendimento dos problemas ambientais decorrentes da ocupação urbana feita sem as diretrizes da arquitetura e urbanismo. “Esta intervenção deve ser feita com bons projetos, com assistência técnica, que contribuem para a prevenção de desastres, pois estes passam a ser minimizados pelo planejamento de nossas cidades”, destaca. “A sustentabilidade urbana, por sua vez, se dá pela avaliação crítica e pertinente dos impactos que trazem às cidades, os novos empreendimentos urbanos. Com a utilização adequada dos instrumentos técnicos e legais disponíveis, os Arquitetos podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida das nossas cidades”, conclui.

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