quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Arquitetos criticam o Rio-2016 - COI cancela edital de licitação

Arquitetos criticam o Rio-2016
Profissionais da área condenam licitação para Centro Olímpico

DO RIO
Um processo de seleção lançado pelo Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio-2016 para a construção do Centro Olímpico de Treinamento do Rio está sendo criticado pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil).
O instituto condena a divisão de responsabilidades determinada pelo edital e os critérios adotados para escolher a empresa vencedora.
Para o presidente do IAB-RJ, Sérgio Magalhães, a licitação peca pela falta de transparência e por dar mais importância ao custo do que à qualidade do projeto.
A Folha tentou ouvir responsáveis do comitê organizador dos Jogos do Rio, durante todo o dia de ontem, mas não obteve resposta.

Segundo Magalhães, o edit al lançado em 19 de agosto prevê que uma empresa desenvolva o conceito do projeto para o Centro Olímpico. Essa mesma empresa deve criar um estudo preliminar -os projetos de cada edifício, apresentados por meio de croquis e plantas.

O comitê organizador pretende lançar outra licitação para definir quem vai aprofundar esses projetos e transformá-los em obras reais. O projeto básico de arquitetura e de paisagismo, por exemplo, caberá ao vencedor dessa segunda licitação.
"Nunca vi isso: uma empresa faz o estudo preliminar e outra o detalha. Quem faz o estudo preliminar sempre dá sequência à obra, mas o comitê inventou essa novidade", critica Magalhães, que também não aprovou a importância atribuída ao preço durante a escolha do projeto.
"Uma intervenção dessa expressão não pode ser entregue a alguém com base em um quesito tão fortuito como preço", opina Magalhães.

Ele vê também no prazo exíguo para a entrega do escopo do trab alho, de apenas dez semanas, uma ameaça à qualidade do Centro Olímpico carioca. "Esse prazo não é compatível com a importância do projeto", diz.


CONCURSO
Para Magalhães, o ideal seria realizar um concurso arquitetônico no qual o preço seria definido pelo comitê e, com base nisso, os interessados enviariam seus projetos para uma comissão julgadora responsável pela escolha.
Segundo o edital do comitê, a seleção será feita em três etapas. A primeira é de mera habilitação administrativa. Depois serão avaliadas as propostas técnicas e, por fim, serão comparados os preços de cada concorrente.
Vence o processo de seleção a empresa que somar mais pontos nas etapas.


Ameaça à arquitetura olímpica e aos brasileiros
FLÁVIO FERREIRA

ESPECIAL PARA A FOLHA

A arquitetura pode perder a oportunidade de bem expressar a cultura brasileira na Olimpíada de 2016.
O comitê organizador emitiu uma carta-convite para a elaboração de todos anteprojetos do Parque Olímpico em dez semanas. As exigências feitas para realizar a tarefa são apenas um portfólio resumido, as intenções de projeto e comprovar um capital de no mínimo R$ 15 mil.
É bem verdade que consta da carta-convite que o anteprojeto deve "garantir que o Parque Olímpico seja um monumento genuinamente brasileiro e único" e "mostrar ao mundo as qualidades e características da cultura, do desenho urbano e da arquitetura carioca e brasileira".
Mas se equivoca ao colocar essas responsabilidades para serem realizadas por uma única firma em dez semanas.
Não acredito em uma armação adrede preparada, como se comenta à boca pequena em alguns setores da cidade, porque as instituições e pessoas envolvidas são honestas. Mas o que está errado é tão ou mais grave: humilha-se a cultura e a arquitetura, ao se achar que estas se resolvem através de soluções tão simplistas, e menospreza-se nossa inteligência.
É necessário que os anteprojetos sejam definidos com prazos e custos prefixados, a partir de concursos públicos, escolhidos por júris classificados, possivelmente internacionais, e com todos os trabalhos concorrentes expostos em lugar público.

Assim será possível que a cultura brasileira be m se expresse na Rio-2016.

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