Associação dos Profissionais Liberais de Engenharia,
Arquitetura, Agrimensura e Agronomia da Prefeitura de Belo Horizonte
Declarada de utilidade pública pela Lei n.º 3.540, de 26 de janeiro 1983
CARTA ABERTA DE APOIO AOS ENGENHEIROS E AOS ARQUITETOS E URBANISTAS DA SUDECAP
A Associação dos
Profissionais Liberais de Engenharia, Arquitetura, Agronomia e Agrimensura da
Prefeitura de Belo Horizonte - APLENA - vem a público expressar a solidariedade
e apoio de seus associados aos colegas da SUDECAP indiciados em processo
criminal para apuração de responsabilidades na queda do viaduto Batalha dos
Guararapes, evento este que consternou a todos nós cidadãos, antes de tudo,
pela perda de duas vidas preciosas.
Assim, este
manifesto, antes de tudo, é pela valorização da vida, através da valorização da
engenharia e da arquitetura e urbanismo, cuja razão de existir é a melhoria da
qualidade de vida de todos, não constituindo um panfleto de natureza corporativa.
Em toda grande
tragédia acontecida na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram tiradas
lições que mudaram a postura do Poder Público frente à realização de obras suas
ou na autorização para a execução de obras particulares, dentre essas tragédias
podemos citar os incêndios da Vila Barraginha e do Caldeirão Mineiro. Nestas
ocasiões, mais do que se procurar imputar responsabilidades pelo fato já
acontecido, buscou-se aprender como elas não voltassem a acontecer, com o
estabelecimento de procedimentos mais rígidos e detalhados de natureza técnica,
na prospecção de sítios para a implantação de empreendimentos e na aplicação de
normas de prevenção de combate de incêndio e pânico, desde as atividades mais
preliminares relacionadas ao licenciamento de edificações e de atividades.
O caso do viaduto
Batalha dos Guararapes chama a atenção para uma situação como esta. A todo
momento se vê, nas notícias publicadas, falhas apontadas durante a execução das
obras em relação a como o processo estava se dando, indo desde a falta ou
desencontro de informações até a falta de articulação de agentes para a
realização de uma determinada atividade. Isso tudo aponta para um fato apenas:
a falta de planejamento integrado da obra como um todo.
Este falta de
planejamento se tornou muito comum no âmbito federal, estadual e municipal, nos
quais esta atividade deixou de ser uma atividade técnica e se tornou uma
atividade política. É o político quem está planejando nossa economia e o
ambiente urbano, estabelecendo prioridades de realização de programas e
projetos segundo agendas como as da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Estes programas e projetos certamente trarão
repercussões na vida dos cidadãos, muitas delas, espera-se, que boas, mas nem
sempre e, por vezes, com efeitos mais que lamentáveis, inadmissíveis.
Com isso, licitações
são feitas para se iniciar obras utilizando procedimentos simplificados como os
de pregão, carta-convite, ou considerando-se o menor preço, com a dispensa de
comprovações seguindo critérios de notório saber. Ao se considerar projetos em si, para efeitos
de dimensionamentos e orçamentos, são considerados projetos básicos. Tudo em
nome da agilização de procedimentos.
Essa simplificação
acarretará que sejam revistos, posteriormente, procedimentos, cálculos,
cronogramas e custos, gerando aditivos de tempo e valores. Com isso, não se tem
um projeto a ser seguido e sim um projeto em constante alteração. Ao fim, no
máximo, se terá um "as built" da obra e não um projeto que foi
executado, para, ao menos, se ter a memória dela.
Existe uma série de
procedimentos de licitação previstos na Lei Federal nº 8.666, de 21 de julho de
1993, mas eles devem ser empregados segundo o que se considera boas práticas de
execução segundo critérios técnicos. Essas boas práticas chamam a atenção para
que se realizem concursos, cada vez que se deseja que uma grande obra
arquitetônica e de intervenção urbana ou obra de arte, como no caso de pontes e
viadutos, a bem de se poder, antes de tudo, discutir ideias e práticas, emparelhando
o empreendimento com o que de mais atual se desenvolve no mercado, já que um
número maior de profissionais de renome participariam do certame.
Além disso, essas
boas práticas apontam para que, sempre, se tenha um projeto executivo pronto
antes de se iniciar a execução de obras e que este projeto esteja todo
elaborado no que se refere a participação de vários profissionais e a interação
das atividades desses profissionais.
A cidade deveria ter
sua própria agenda de planejamento contínuo. A agenda política deveria ser uma
janela de oportunidades para se executar a agenda da cidade. Só assim a agenda
política pode alcançar seu potencial maior, deixando um legado para a cidade e
se integrando a ela. Nem sempre os legados da agenda política são os legados
que a cidade precisa ou, ao menos, não do modo como ela precisa que eles se
concretizem.
Parece estarmos
falando de algo simples, e até lógico, mas, para que isso aconteça, o político
deve entender que o planejamento constitui uma atividade integrada, devidamente
normatizada e fiscalizada por Conselhos Profissionais. No momento que ele se
torna apenas o instrumento de cumprimento de um calendário político, prazos e
custos se sobrepõem às características de qualidade e segurança.
Não é o nome dos
políticos que fica gravado nos projetos, mesmo porque eles têm prazos de
mandatos estabelecidos e logo não mais nem estarão à frente do Poder Público
para responder por este poder. Servidores têm uma carreira no funcionalismo
público e lá permanecerão, constituindo a memória e sendo os responsáveis pelas
obras executadas em nome deste poder. No entanto, não se dá voz a esses
profissionais, sendo eles tratados apenas como aqueles que possibilitarão o
cumprimento de uma tarefa. Cada vez que um destes profissionais se posiciona, a
bem da adoção de melhores práticas a garantir os melhores resultados, são
considerados como empecilhos à implementação dos atos de uma administração.
Nós, os engenheiros e
os arquitetos e urbanistas da Prefeitura de Belo Horizonte, nos solidarizamos
com nossos colegas da SUDECAP que estão sendo indiciados em um processo em
virtude de terem sido colocados, involuntariamente, à parte de todo um processo
de planejamento e de execução de obra, servindo apenas de elementos validadores
de etapas. Nos solidarizamos e tememos, por nós mesmos, que, a qualquer momento
possamos estar sendo indiciados uma vez que esta estrutura se replica na
administração direta, do mesmo modo que na indireta.
Mais que prestar
nossa solidariedade, panfletamos pela alteração dessa estrutura, para que a
atividade de planejamento seja considerada sob a ótica das boas práticas
técnicas e não vinculadas, apenas, a uma agenda política.
Os engenheiros e os
arquitetos e urbanistas da Associação dos Profissionais Liberais de Engenharia,
Arquitetura, Agronomia e Agrimensura da Prefeitura de Belo Horizonte - APLENA –
PBH.
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Rua dos Tupis, 185/Salas 1.203
e 1.205, CEP 30190-060 - Belo Horizonte/MG, Telefax:(31)3227-6707 - E-mail: aplenapbh@uai.com.br
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